Olá, senhoras e senhores. Meu nome é Davi Ferreira, e é com prazer que venho aqui falar com vocês sobre drogas. É desnecessário falar que não vou falar desse último cd do Jorge Ben Jor (tinha uma música chamada “Emo”, sobre os vizinhos adolescentes dele. Isso explica tudo.) nem daquele Manhattan Conection. O bagulho – a coisa – aqui é sobre entorpecente e alucinógenos! E sobre como o brasileiro precisa e pode se drogar. Vou acompanhar aqui com os senhores tudo que anda rolando na mídia sobre esse mundinho de pulmão enfumaçado.
Ó só os estudantes de publicidade abrindo um sorrisinho sacana. “Ele veio para me defender! Deve ser o arqui-inimigo do Capitão Nascimento!” Mas podem parar por aí, porque eu odeio vocês, e faço até o favor de ir pegar o cabo de vassoura. Se bem que vocês fumam para ficarem criativos, o que eu considero bacana.
Não acredito no lance da criatividade, porque não vejo vocês fazerem nada de decente, além de descolar uma boa desculpa para fumar. Acho que toda profissão devia ter uma desculpa padrão. Eu já trabalhei numa agência de publicidade e era lindo, porque essa é tipo a desculpa padrão para fumar maconha. Mas quando você sai de lá, ao menos que vá tocar numa banda de rock, a coisa complica. Aos 21 anos, eu trabalhei 3 semanas como motorista de ônibus. Quer profissão mais brasileira que motorista de ônibus? A gente tem um monte de ônibus nas ruas brasileiras, e o motorista de ônbius é o brasileiro típico. Mas tem seus problemas para puxar unzito. Que desculpa você pode dar para fumar maconha quando se é um motorista de ônibus? Eu falava que era para desestressar, porque era um trabalho que acumulava muita pressão. Veja bem, eu passava em frente às melhores favelas da cidade e nunca podia descer do ônibus para ir lá dentro comprar um de 5. Isso é muita pressão.
Ironia sempre cola, e esse papo de querer fumar por não poder fumar acabou sendo aceito pela minha supervisora. Além disso, o fato dela fumar e vender contribuíram. Se eu soubesse que ela vendia, provavelmente nem inventaria o caô.
Então eu fumava um – apenas um, porque eu não sou irresponsável – e ia dirigindo. Eu era um excelente motorista chapado, provavelmente reflexo da minha adolescência em Niterói, jogando ‘Gran Turismo’ no PlayStation e fumando um bagulho que o Tio Wagner – um pescador hippie muito gente boa – trazia. Teria tudo para dar certo, se uma das paradas do ônibus não fosse exatamente em frente a um McDonald’s. Todos conhecemos a larica.
Fui demitido e passei a me preocupar com esse terrível problema: uma desculpinha para fumar. Aliás, é bom já deixar claro que essa é uma das minhas – poucas – metas: achar a desculpa para todo trabalhador brasileiro poder tomar sua droguinha. Não luto pela legalização. Não quero que legalize, porque se isso acontecer, meus pais vão querer fumar. Imagina eu chegando em casa e tão lá os velhos assistindo Domingão do Faustão e rindo pra cacete – o que eu já fiz, e não recomendo. É desperdício de erva.
– Mãe!
– Davi! – rindo loucamente.
– Vem aqui, filho, dá um puxão. – diria meu pai, enquanto mete a mão no saco de Doritos.
– Pára! Isso é ridículo! É mais ridículo do que o fato d’eu ainda morar com vocês!
Fora que não acredito no processo jurídico da legalização. Quem fuma maconha, não tem lá esse gás para enfrentar tanta burocracia. Vai ver aquele monte de papel pela frente, e só vai pensar em arrumar uma ervinha para usar aquilo tudo de seda mesmo.
E fora que minha ‘correria’ é por todas as drogas. Se eu fosse ficar só na maconha, poderia até pensar em toda a parada da lei, mas nem é assim que a parada funciona. Aqui não. Se você fuma, injeta, cheira ou e que mais for; você precisa duma boa desculpa para fazer isso. Você é meu parceiro, você é meu irmão, você é meu brasileiro! Porque o brasileiro pode tomar droga, mais do que qualquer outro terráqueo.
Agora que eu acho que a polícia podia ser mais gentil com o usuário, isso é. Ninguém toma dura quando volta do ponto de jogo-de-bicho com uma aposta na mão. OU TOMA HEIN?
E sobre o direito do brasileiro de tomar drogas, explicarei a coisa com exemplos. Porque exemplos falam mais que mil imagens:
Zico – Tricampeão brasileiro, o segundo melhor jogador do Brasil (logo do mundo) podia ser craque, mas jamais seria infame. Quando quebraram a patinha do galinho, ele ficou viciadão em morfina, e não em crack, como seria o trocadilho ideal.
Tim Maia – Fez o geniais “Racional vol. 1” e “vol. 2“, álbuns que entram em qualquer lista dos melhores discos da música brasileira. Nunca ouvi nenhum dos 2, mas eu tinha que citar um exemplo menos óbvio que Marcelo D2. E todos sabemos da simpatia do Tim por Atchim. Sniff, sniff. Exato. O gozado é que sempre lembro do meu pai falando que o que matou Tim Maia não foi a cocaína, mas as duas travessas de pudim-de-leite que o cara comia todo dia. Bom, tendo em vista as formas do cantor, é uma boa teoria também…
Marcello Anthony – Grande ator brasileiro. Bom pai, adotou um moleque. E curte dar seus puxõezinhos – na erva, não na orelha do moleque, como muito pai bêbado por aí. Já rodou (foi preso, para os incautos) e tudo, há 3 anos no Rio Grande do Sul. Na época, Marcello disse que estava sozinho na cidade, tinha havido um problema na produção do filme que ele estava gravando, e por isso quis fumar um cigarro. “Porra,um Marlboro não custa mais do que 3 reias, cara!” – grita Eric Franco, 23 anos, usuário de analgésicos opióides, conseguidos somente com receita médica.
Beto Bruno – Curte puxar seu baseadão. Dá entrevistas aonde não vê o mico que está pagando e lidera a Cachorro Grande. Mau exemplo, ok.
Garrincha – Esse sim, o melhor jogador do mundo. Esse bebia o rabo para fora. Como fumava tabaco o Mané! E tudo legalizado, veja bem. Nem precisa de prescrição do doutor.
Entenderam? O brasileiro, o bom brasileiro, o melhor brasileiro, ele curte ficar doidão. E eu vou voltar aqui mais vezes, para conversar sobre vocês sobre ficar doidão sendo um brasileiro de respeito – e existe outro tipo (fora o Beto Bruno)?
Para finalizar: fiquem longe do crack. Não porque ele vicia rápido, nem porque é caro, muito menos por fazer você esquecer da sua vida apenas para obter mais e mais; mas sim porque seu efeito colateral mais avassalador é uma violentíssima diarréia.
E esse é Davi Ferreira. E corta.
A voz do povo